“Ilusões Perdidas” é obra-prima do cinema francês contemporâneo

Dirigido de forma certeira por Xavier Giannoli, o filme dialoga muito bem com a realidade atual sem deixar de retratar o período original da obra de Balzac

Honoré de Balzac é um dos pais do jornalismo. Podemos assim considerar. Seu romance “Ilusões Perdidas”, publicado em 1837, cavuca as origens da prática jornalística e suas implicações imediatas quando dialoga (nem sempre) com a ética. E, nisso, o diretor Xavier Giannoli acerta em cheio.

Exibido pela primeira vez no Brasil dentro do Festival Varilux de Cinema Francês de 2021 e atualmente em cartaz no País, a nova versão de “Ilusões Perdidas” tem uma pegada bem atual e dialoga com o mundo em que vivemos. Principalmente com a Europa contemporânea, mas também com outras realidades permeadas por fake news do mundo.

Não à toa, foi arrasador no César, considerado o Oscar francês, ao vencer seis estatuetas, incluindo as de melhor filme, roteiro, ator revelação (Benjamin Voisin) e coadjuvante (Vincent Lacoste).

Assim como Balzac, Gianolli introduz o espectador ao clima provinciano e começa a construir a personalidade de Lucien de Rubempré, o protagonista. Poeta talentoso, mas longe de ser bem-nascido, ele parte para a capital Paris, em busca de espaço e conhecimento. Movimento graças à descoberta de seu caso com a mulher de um influente homem de sua localidade.

Isso já é suficiente para o mote seguinte, quando seu romance proibido impacta na esperança de ganhar a notoriedade desejada. A partir daí, há um turbilhão de desventuras para Lucien. Em Paris, ele descobre que as fofocas só se amplificam, mas que o cenário é o mesmo do seu interior. O julgamento também. Afinal de contas, o humano corrompe e é corrompido simplesmente pelo fato de ser humano. Para Lucien, a ingenuidade se perde com dor e sofrimento.

Gianolli, aqui, é muito bem-sucedido, quando mistura a história de Lucien ao jornalismo, mostrando que as fake news, tão difundidas numa atualidade de redes sociais, já espalhava-se por outras redes lá pelos idos do século XVII.

Em meio aos seus infortúnios, ele conhece Lousteau, é puxado para a redação de um jornal e vira crítico. Imaginando que tem autonomia, ele vai mergulhando mais profundamente no que a imprensa tem de mais ruim, que é quando se vende pela notícia e não faz comunicação social de fato.

Ponto positivo para o trio de principais atores, que fazem seus personagens com muita propriedade. Benjamin Voisin, como Lucien; Vincent Lacoste, interpretando Lousteau; e Cécile de France, encarnando Louise de Bargeton.

“Ilusões Perdidas”, em exibição pelo Brasil, vale cada centavo de ingresso, principalmente se você se interessa pelo cinema feito fora de Hollywood. Bom roteiro, direção certeira e grandes atuações explicam a grande premiação no César e torna inexplicável seu esquecimento em premiações importantes, como Oscar, Globo de Ouro e Bafta, mesmo admitindo a forte concorrência em seu ano de disputa.

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