A Jangada de Welles estreia nesta quinta-feira (23) nos cinemas, incluindo o Ceará

Longa-metragem dirigido pelos cearenses Firmino Holanda e Petrus Cariry revisita a passagem de Orson Welles por Fortaleza há 80 anos

“A Jangada de Welles” já foi exibido em mais de 20 festivais de cinema espalhados por 10 países mundo afora. Agora, é a vez do documentário em longa metragem entrar no circuito nacional, a partir desta quinta-feira (23). O filme, dirigido por Firmino Holanda e Petrus Cariry, viaja no tempo para mostrar a passagem de Orson Welles no Brasil durante a gravação de “It’s All True”. O recorte dado por Holanda e Cariry mostra Welles em solo cearense, na Praia de Iracema e nas dunas do Mucuripe, em Fortaleza, em junho de 1942. As filmagens, também lembradas pela trágica morte do jangadeiro cearense Manuel Jacaré, no Rio de Janeiro, se estenderiam pelo mês de julho na Capital cearense, com imagens ainda sendo posteriormente registradas em Recife e Salvador.

Firmino Holanda, pesquisador e autor do livro “Orson Welles no Ceará”, publicado pelas Edições Demócrito Rocha, em 2001, pontua que Welles, antes filmar em Fortaleza, já contava com as imagens cariocas que recriavam a chegada da jangada “São Pedro” ao Rio de Janeiro, tripulada por Manuel Jacaré, Jerônimo, Tatá e Manuel Preto. Este fato histórico ocorrera no ano anterior, em 15 de novembro de 1941, depois de 61 dias de travessia pelo mar Atlântico. A viagem, que chamou atenção de Welles, através da revista norte-americana “Time”, levou os jangadeiros até o presidente Getúlio Vargas, que ouviu suas reivindicações trabalhistas.

Vindo ao Brasil para fazer registros sobre o carnaval carioca, Welles decidiu encontrar e filmar esses jangadeiros, criando um outro episódio para o longa “It’s All True”. Neste, a comunidade de pescadores, em Fortaleza, colaborou com a produção, fornecendo intérpretes principais e figurantes, engajando-se no movimento encabeçado pelo cineasta americano. “Em 19 de maio de 1942, durante os trabalhos no Rio de Janeiro, um acidente tirou a vida de Jacaré, que sumiu nas águas do mar. Welles, que muito o admirava, sentiu-se mais ainda obrigado a concluir seu episódio, isto quando os produtores já demonstravam desinteresse pelo projeto ‘It’s All True’, de modo geral”, relata o diretor.

Na época, a equipe de Welles veio a Fortaleza bastante reduzida, formada pelo assistente Richard Wilson, sua esposa Elizabeth Wilson e a secretária Shifra Haran. Técnicos ligados à produtora carioca Cinédia, que cedeu a câmera principal utilizada, também participaram, sendo estes o diretor de fotografia George Fanto, seu assistente Reginaldo Calmon e Roberto Cavalieri, responsável pelo som guia. A gravação ainda contou com o apoio da Aba Film, empresa de Adhemar Bezerra Albuquerque, pioneiro do cinema cearense, que emprestou uma outra câmera. Juntaram-se ainda ao grupo, o fotógrafo still Chico Albuquerque e a educadora Aída Balaio, que colaborou nos contatos no Mucuripe e na tradução.

Holanda e Cariry já haviam pesquisado juntos sobre a jornada de Welles no Brasil. Em 2005, os dois dirigiram o média-metragem para a televisão “Cidadão Jacaré”, projeto do Programa de Fomento à Produção e Teledifusão do Documentário Brasileiro (DOCTV). “Desde então, passamos a trabalhar juntos em diversos projetos dirigidos por mim, tanto de curta quanto de longa-metragem, em que ele colabora e assina também como roteirista e montador de vários deles”, diz Cariry.

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