Em uma noite de ode à música popular brasileira, os irmãos rememoram sucessos, homenageiam compositores e amigos e se entregam ao contemporâneo
A Arena Castelão, acostumada ao espetáculo da bola rolando, viu um outro espetáculo, grandioso, neste sábado (16). Na rota da turnê “Caetano & Bethânia”, Fortaleza se viu em um misto de nostalgia e euforia por receber dois dos mais importantes artistas da música brasileira em duas horas de show na mesma intensidade.
E isso é o que salta aos olhos de quem esteve na Arena Castelão. Maria Bethânia, 78 anos, e Caetano Veloso, 82, mostraram a jovialidade dos adolescentes dos anos 1960, com a mesma irreverência, potência vocal e, principalmente, autoridade no que cantam.
A setlist de 40 músicas é uma verdadeira cartografia da MPB, rememorando grandes sucessos (que não estavam ali apenas como um apanhado da carreira) e apresentando o que eles veem da música produzida no Brasil. Os grandes compositores estavam presentes, assim como ícones de movimentos mais atuais da música popular. Ver IZA pela leitura dos dois é um verdadeiro deleite.
Caetano Veloso prova porque faz parte do que eu considero ser a Santíssima Trindade da Música Brasileira: com Chico Buarque e Roberto Carlos. É um camaleão musical, flertando com diferentes ritmos e movimentos com a mesma facilidade com que escreve ou se posiciona politicamente. Aliás, de cima do palco, Caetano fez, como fez ao comprar a briga do iê-iê-iê há mais de meio século: alertou para a nova tendência e ousou ao cantar Kleber Lucas.
Maria Bethânia é a mãe de todas as divas. Ela canta com uma voz gutural, mas canta com o olhar, com os gestos comedidos, mas objetivos, e mostra conhecimento para transitar entre a música de protesto e a dor de cotovelo como ninguém. Vai de Raul Seixas a Adelino Moreira num pestanejar, voluptuosamente, sem que se perceba.
Difícil ressaltar os pontos altos do show porque ele é construído com uma onda incessante. Não há momento de perda de fôlego ou no qual o público se disperse. O roteiro é construído para você não ter tempo de esmorecer. Afinal de contas, será possível ainda vê-los juntos novamente? Talvez não. Mas é certo que, na nossa mente, a noite do sábado, 16 de novembro de 2024, estará viva e rejuvenescida, como qualquer noite intensa de um desses anos 1960.
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