Considerada pela Organização Mundial de Saúde como o “mal do século”, a depressão afeta cerca de 5,8% dos brasileiros. Parece pouco? Não se engane! São mais de 11 milhões de pessoas no país sofrendo com depressão e esse número é assustador! Entretanto, o pior de tudo ainda é a ignorância acerca do problema e a mania de se querer curar depressão com religiosidade.
Caracterizada pela perda ou diminuição de interesse e prazer pela vida, a doença gera angústia muitas vezes sem motivo aparente. Atualmente, a depressão é considerada a quarta principal causa de incapacitação, de acordo com a OMS. Esse transtorno psiquiátrico pode atingir qualquer pessoa, em qualquer idade, embora seja mais frequente entre mulheres. Ela exige avaliação e tratamento com um profissional especializado (psicólogo e psiquiatra), não com o padre/pastor da sua igreja ou com aquela amiga da vida inteira. O desânimo sem fim, principal observação entre pacientes depressivos, é fruto de um desequilíbrio bioquímico cerebral, como a diminuição na oferta de neurotransmissores como serotonina, que é ligada à sensação de bem-estar.
Atualmente, sabe-se que a depressão não promove apenas uma sensação de infelicidade crônica, mas incita alterações fisiológicas que provocam baixas no sistema imune e aumento de processos inflamatórios, já figurando como um fator de risco para condições específicas como doenças cardiovasculares.
Há algum tempo venho observando na internet algumas pessoas compartilhando uma “receita para curar depressão” que consiste em tomar sol, caminhar, cantar, comer frutas e mel. ISSO É REVOLTANTE! Você que está aí lendo esse texto agora e pensando no seu amigo/irmão/pais/parente com depressão, acha MESMO que uma salada de frutas com mel e alguns minutos de exposição ao sol podem curá-lo? Assim, sem nada a mais? Se você respondeu “sim”, você ainda tem a visão deturpada de que uma pessoa com depressão é uma pessoa triste, chorosa, fechada. Infelizmente. E é essa uma das maiores barreiras a ser quebrada pelo paciente depressivo. Pedir ajuda se torna excruciante quando todos ao seu redor qualificam como “frescura” e “falta de força de vontade” uma doença tão séria, visto que você não está preso dentro de um quarto, num cantinho, chorando em posição fetal. Precisamos para de estigmatizar o paciente depressivo.
Falar sobre o tema já não é fácil. Imagine entender os sintomas e buscar ajuda! Você não faz um exame de sangue, descobre que tem depressão e toma um polivitamínico pra resolver. Depressão é uma doença silenciosa e solitária. Só quem passa tem noção do fardo que carrega. Não é falta de Deus, não é frescura, não é falta de amor, não é carência, não é “falta de homem”, não é “doença de rico”. E mata. Cada dia mais.
Sintomas/Sinais
Não há como se listar causas recorrentes de depressão com absoluta certeza porque, por se tratar e uma doença psiquiátrica, pode apresentar as mais diversas causas ou gatilhos. No entanto, conseguimos fazer uma lista dos principais sintomas depressivos que podem servir como um alerta para que o paciente busque ajuda, tais como: cansaço extremo, fraqueza, angústia, ansiedade exacerbada, baixa autoestima, insônia (ou sono de má qualidade), falta de interesse por atividades antes prazerosas, pensamentos pessimistas, pensamentos frequentes sobre morte, comportamentos compulsivos, dificuldade de se concentrar, problemas ou disfunções sexuais e sensação de incapacidade ou impotência para realizar tarefas diárias.
Existem também os fatores de risco como: histórico familiar, transtornos psiquiátrico correlatos, estresse crônico, ansiedade crônica, disfunções hormonais, excesso de peso, sedentarismo e dieta desregrada, vícios (cigarro, álcool, drogas ilícitas), traumas físicos ou psicológicos e até pancadas na cabeça.
Prevenção
Para espantar essa tristeza sem fim da rotina, é importante aprender a gerenciar o estresse e compartilhar as dificuldades do dia a dia. Ter um hobbie, ler e/ou (pelo menos tentar!) se divertir ou praticar alguma atividade física ajudam a manter a cabeça livre de pensamentos negativos. A máxima “mente sã, corpo são” é cientificamente aceita e o caminho inverso também procede. Cuidar do organismo reflete na saúde mental. Praticar alguma atividade física regularmente ajuda bastante, já que a prática incentiva a liberação de hormônios e outras substâncias importantes para a manutenção do humor.
Diagnóstico
Até existem testes e questionários que tentam apontar o dedo para o distúrbio, mas somente uma avaliação apurada do médico psiquiatra e exames direcionados poderão cravar realmente o diagnóstico correto. Nessa avaliação, o profissional incluirá o histórico médico e familiar do paciente pois a condição pode estar associada a outros transtornos psiquiátricos ou a pré-disposições. A depressão é classificada de acordo com sua intensidade: leve, moderada ou grave.
Tratamento
Não existe um tempo pré-definido para a duração de uma depressão. Ela pode durar semanas ou até anos. Uma vez que o indivíduo passa por uma crise, corre um risco maior de enfrentar episódio semelhante outras vezes na vida. Na maioria das vezes, o tratamento é feito em conjunto por psiquiatra e psicólogo. O medicamento receitado pelo médico auxilia na regulação da química cerebral e o acompanhamento psicológico buscará levantar as causas do problema e como ele poderá ser desmontado. Os remédios podem demorar um tempo para fazer efeito no paciente e, em muitos casos, podem até nem ser necessários. Isso vai depender da avaliação do psiquiatra sobre o grau de depressão do paciente.
OMS
De acordo com a OMS, o Brasil é o país com maior prevalência de depressão da América Latina e o segundo com maior prevalência nas Américas, perdendo somente para os Estados Unidos, que têm 5,9% da população depressiva. No mundo, esse número é de 4,4%.
Somente em 2015, 788 mil pessoas morreram por suicídio. Isso representou quase 1,5% de todas as mortes no mundo, figurando entre as 20 maiores causas de morte em 2015. Entre jovens de 15 a 29 anos, o suicídio foi a segunda maior causa de morte em 2015.
Esses dados são de fevereiro de 2017. Em pouco mais de um ano, sem dúvida, esse número aumentou. Lamentavelmente.
Excelente!