Grande aventura, “Thor: Amor e Trovão” patina em assuntos relevantes

Fórmula repetida do diretor Taika Waititi atrapalha no desenvolvimento da narrativa e frustra, apesar de ser competente tecnicamente

A fórmula criada por Taika Waititi para o Deus do Trovão já está ultrapassada com dois filmes realizados. A ideia de construir um Thor engraçadinho, cheio de tiradas, que não se leva a sério e irresponsavelmente confiante parece não ter o mesmo impacto. Em “Thor: Ragnarok”, isso funcionou bem por extravasar a rivalidade e, ao mesmo tempo, parceria com o Hulk e pelo ineditismo.

Confesso que sempre tive um pouco de dificuldade de aceitar o Thor piadista do MCU, principalmente se a comparação for feita com os quadrinhos, onde a pegada com o herói é diferente. Mas, dentro do alívio cômico que a Marvel estabeleceu para suas produções, era admissível. No entanto, o Thor de Waititi extrapola a graça e chega ao risível inúmeras vezes. Ao ponto de se ficar tentando adivinhar quando será a próxima tirada.

E estamos falando de uma sequência que se constitui um ótimo filme de aventura, pelas cenas bem produzidas, as tomadas abertas grandiosas e as lutas bem coreografadas. Assistir a “Thor: Amor e Trovão” é, de fato, uma boa experiência do ponto de vista visual, principalmente, e do entretenimento.

No entanto, quando o roteiro quer contar a história revezando entre comédia e drama, falha muito. Não que a combinação não seja interessante. Contudo, o excesso de gracejos engole o conteúdo dramático, que tem dois recortes muito bons, porém mal desenvolvidos. E posso dizer, sem exageros, que transformariam o quarto longa do Asgardiano em uma obra de alto nível.

Durante suas praticamente duas horas, “Thor: Amor e Trovão” traz para discussão a idolatria fanática da religiões e o medo da morte. Ambos personificados em Christian Bale (Gorr – O Carniceiro dos Deuses) e Natalie Portman (Jane Foster). E no meio disso, um Thor (Chris Hemsworth) buscando sua identidade e tendo de lidar com um ser que quer extinguir todo e qualquer deus em sua ânsia de vingança.

A narrativa estava aí, posta, oscilando entre uma paleta de cores bem intensa, mostrando o vigor de um Thor se tornando altivo mais uma vez (e convencido!), e uma descoloração, firme nas questões mais sérias, interiores. Mas novamente o roteiro esbarra no superficial. Jane Foster empunha Mjolnir num estalar de dedos e seu drama pessoal se desenvolve e termina em intervalos de lutas. O Gorr, de Bale, que teria potencial para levantar uma série de questões sociais, éticas e religiosas, não passa de matador de deuses categoria B, como bem diz um sarcástico Zeus bem mais para Dionísio.

Este é o problema de “Thor: Amor e Trovão”. Nada evolui como poderia na narrativa. Há tanto espaço para o cômico que falta tempo para as questões verdadeiramente interessantes do filme. E o que evidencia isso é o fato de que o ápice real da experiência de 1h59min está na primeira cena pós-crédito (são duas). É ela que faz você criar expectativa para a frase “Thor voltará” depois que a exibição acaba.

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