Jenna Ortega “encarna” Wandinha adolescente e lidera versão moderna da Família Addams

Série da Netflix traz personagem imersa em mundo adolescente sobrenatural com peculiar tom bizarro

Wandinha, da Netflix, é uma Sabrina muito mais encorpada. E aqui, não tem demérito para “O Mundo Sombrio de Sabrina”, que é uma série gostosa de ver e que seria uma ótima opção para as tardes de qualquer TV aberta. Mas é que “Wandinha”, nas mãos de Alfred Gough e Miles Millar (você deve lembrar deles de “Smallville”) é mais completa e mais competente quando busca transformar o terror que assustaria no misterioso e pitoresco. Sem contar que o produtor executivo é ninguém menos que Tim Burton, que também dirige os quatro primeiros episódios.

A Wandinha de Jenna Ortega, que está ótima na interpretação da personagem, é divertida, niilista e amorosa ao mesmo tempo. Mesmo que negue, a todo custo, duas destas características. No enredo, a personagem-título sai da cômoda infância para viver o que todo jovem (pré ou adolescente mesmo) vive: conhecer gente tão estranha quanto você, virar-se sozinho muitas vezes, defrontar-se com sentimentos que não esperar ter e um turbilhão de outras situações inesperadas. E, acredite, até para Wandinha Addams, isso é um osso duro de roer.

Por isso, as críticas sobre a série ser juvenil demais não se sustentam. Aqui nós temos uma Wandinha que se faz de forte e decidida resistindo ao recado da vida: “Você não se basta sozinha”. Uma reflexão que atinge muito mais os adolescentes (óbvio!), mas que pode bater forte nos adultos também. Afinal de contas, quem não tem problemas mal resolvidos na vida!? E outra, mesmo que o recorte seja apenas para o público adolescente, qual o problema real nisso? Sem contar que é muito divertido ver uma personagem que quer ser sombria o tempo todo tendo que vivenciar um ambiente em que os outros adolescentes querem fugir o tempo todo dessa sombra e serem normais. Um desafio e tanto!

O roteiro vai levando Wandinha, passo a passo, para a resolução do mistério que envolve a sua escola que, aliás, traz uma abordagem e uma outra discussão bem interessante para o momento em que vivemos: é uma escola para excluídos. Excluídos que só são excluídos por serem diferentes. Se fossem aceitos, não precisariam, talvez, viverem a exclusão como vivem.

Um ponto alto se dá quando Wandinha conversa com a professora Marilyn Thornhill, interpretada por Christina Ricci. É bom lembrar que Ricci interpretou Wandinha nos dois filmes dos anos 1990. Thornhill pergunta se Wandinha precisa de ajuda com um assunto. Ela responde que não é preciso. Como se dissesse à antiga intérprete que a nova já pode caminhar sozinha. Uma grande sacada de diálogo para os fãs saudosistas.

Pois bem, ao longo dos capítulos, Wandinha vai pulando as casas do caminho que a levará à solução dos assassinatos que ocorrem em Jericho, cidade fictícia da história, e à identidade do monstro que as comete. E, neste caminho, ela é levada a situações dignas de um “O Enigma da Pirâmide”.

Mas há furos e enxertos que poderiam ter sido melhor explorados ou até descartados. A aparição de Tio Chico, bem interpretado por Fred Armisen, diga-se de passagem, fica deslocada na história, como se ele estivesse cumprindo apenas uma cota de aparição para satisfazer os saudosistas da série antiga e dos filmes. Na prática, o que ele faz em um episódio poderia ser feito por outro personagem sem a necessidade de ele aparecer.

Outro que não está à vontade é Luis Guzmán, como Gomez Addams. Sua interpretação, com um bom tempo de tela, fica apagada em relação a outros personagens da família na série. Claro que é inevitável a comparação com Raul Julia, que fez Gomez no cinema. Mas, mesmo se não o considerarmos, a expectativa é que a segunda temporada traga uma melhor atuação. Situação diferente vive a oscarizada Catherine Zeta-Jones, como Morticia Addams. Sua caracterização cai como uma luva e sua interpretação, mesmo longe da de Anjelica Houston, é bem competente.

Ah, e o CGI não ficou bom. A dúvida é se foi proposital, o que não parece, ou se faltou uma melhor pós-produção. Não é parece que foi algo feito para ser tosco porque há variações positivas, como a construção de Mãozinha. Todo o esforço de efeitos visuais para criar o personagem não condiz com a caracterização do monstro da série, só para citar um exemplo. Não tem jeito de pitoresco. Tem jeito de mal-feito mesmo.

Mas Wandinha passa no teste bem e cria expectativa para uma segunda temporada mais intensa, a contar também pelo seu final. E vamos lá, mesmo que tudo isso não valha a penas ao final da sua experiência, a dancinha da Wandinha vai valer.

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