Longa dirigido por Er Gorbach discute guerra, pessoas e suas relações de forma realista
“Klondike – A Guerra na Ucrânia” é um filme necessário. Não por tomar partido de um lado ou outro (ele faz isso!). Mas por mostrar como um conflito pode causar tantas perdas pra uns e alimentar uns tantos outros. Com uma montagem ousada, por ir no limite do que se quer dizer em 1h40 de exibição, o longa-metragem discute o íntimo dos personagens e os desdobramentos dos acontecimentos, sem precisar mostra-los diretamente.
A narrativa gira em torno de Irka (a ótima Oksana Cherkashyna) e Tolik (Sergey Shadrin), que vivem em Donetsk, nas proximidades da fronteira entre Ucrânia e Rússia, um território em disputa no começo da Guerra em Donbas, 2014. O casal aguarda o nascimento do primeiro filho em meio a uma guerra que destrói sua casa e a sua vida a dois.
O ápice dessa situação chega durante o atentado a um avião de um voo civil, que cai na região, matando quase 300 pessoas.
Enquanto Tolik tenta, à revelia de sua mulher, sair da região com ela e salvar suas vidas, é pressionado por seus amigos separatistas pró-Rússia a se juntar a eles. E também por Irka, que se apega a mínimos detalhes para permanecer onde estão. Uma tentativa que tantas Irkas devem sempre fazer em meio à guerra, tentar não perder o mínimo que lutaram para conquistar.
E por falar na tentativa de Tolik de sair de Donetsk, é importante salientar que o filme dirigido pela ucranina radicada na Turquia, Er Gorbach, vai se tornando um retrato de como a mulher é tratada mundialmente. Por mais que lute, Irka está sempre sem voz, lutando para ser ouvida. A imagem de uma mulher grávida em meio a homens em guerra é significativa e encerra um discurso tão atual quanto a Guerra na Ucrânia. A ver a sequência final.
A direção de Er Gorbach é firme e segura, indo fundo no discurso de cada situação, desenvolvendo os personagens e tomando partido de cada situação apresentada. O roteiro se utiliza bem dos diálogos e também dos momentos de silêncio. Mas tropeça em algumas sequências que ficam sem desfecho e sem apontar para possibilidades futuras.
Mas “Klondike – A Guerra na Ucrânia tem bem mais acertos do que erros. Não é um filme produzido para grandes plateias que prefeririam ver o bombardeio e a queda de um avião a ouvir um estrondo e vislumbrar apenas a fumaça ao longe.