Pureza: Dira Paes leva Brasil que ignoramos para as telas do cinema

Longa dirigido por Renato Barbieri mostra luta de uma mãe para livrar o filho da escravidão no Brasil contemporâneo

No Brasil, existem diferentes realidades ignoradas pela maioria das pessoas. Seja por desconhecimento ou propositadamente. Situações como as que estão narradas em Pureza, do diretor Renato Barbieri, parecem insólitas e irrealistas para um país em pleno Século 21, mas estão nos rodeando dia após dia.

A temática da escravidão é bem real e atual, mesmo a história se passando no início dos anos 1990. Só para se ter ideia, no ano passado, em 2021, 1.937 pessoas em situação de escravidão contemporânea foram resgatadas no Brasil. Aliás, o noticiário tem, recentemente, apresentado diversos desses casos, que podem estar acontecendo do lado da sua casa. Sabe aquela família que dá comida e casa para a filha daquela amiga do Interior em troca de a menina cuidar dos filhos até crescerem? Pois é, isso é escravidão.

Em Pureza, a escravidão está em versão ainda mais crua e violenta. Ao ver o filho ir embora buscar um nova perspectiva de vida e não voltar, Pureza (interpretada por Dira Paes), se infiltra em uma fazenda escravista da Amazônia e começa a trabalhar como cozinheira. O objetivo é claro: reencontrar o filho, que está lá escravizado. A partir da sua luta, quando noticiada, a escravidão naquela região na qual se passa a narrativa seria extirpada.

No filme, dirigido por Renato Barbieri e roteirizado por Marcus Ligocki, essa problemática passa por problemas cinematográficos, apesar de ser contada de maneira objetiva. Aliás, a história de Pureza é narrada de forma tradicional, sem inovações ou qualquer tipo de experimentação. E não quer dizer que isso seja ruim. Pelo contrário, é uma forma segura de contar uma história e não cometer erros por ir além do que pode conseguir.

Mas, neste caso, não ousar foi perder uma boa oportunidade de fazer de Pureza um retrato mais próximo ainda da realidade, de ser um tapa mais realista no espectador. Quando a situação vai se afunilando e a carga dramática pede mais do roteiro e da direção, ambos esbarram nas suas limitações e os fatos vão se atropelando.

Mesmo assim, a atuação maravilhosa de Dira Paes, que dispensa apresentações, segura esses momentos e dá o tom certo que Pureza deveria ter já em seu argumento. Importante ressaltar que este é um longa em que a atuação da atriz principal equivale à boa parte da sua força.

Dira ajuda a direção a transforma-la em uma heroína de fato, com a famosa jornada e tudo que decorre a partir dela. E, ao longo da exibição, as ações de Pureza vão ganhando uma representatividade que emociona pelo apelo maternal. Neste aspecto, há uma transcendência interessante, que é muito feliz em transformar uma luta pessoal em universal.

Ainda que não amplifique questões como deveria, Pureza é uma luta real pela liberdade, sentimento que tantos buscam diariamente. E sobre escravidões que nos fustigam da hora que acordamos à que dormimos. É o verdadeiro Brasil que empurramos para debaixo do tapete tantas vezes sem nem perceber.

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