Com o mês de setembro dedicado à campanha de doações de órgãos, profissionais de saúde explicam como é o processo desde a doação ao transplante
A campanha Setembro Verde tem o objetivo de conscientizar e sensibilizar a população sobre a importância da doação de órgãos. Segundo dados da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos informados no Registro Brasileiro de Transplantes e Estatísticas de Transplantes, em 2020 houve uma queda de doadores e procedimentos, e a pandemia foi um dos motivos desse resultado. O Brasil é o segundo país do mundo em número de transplantes, mas as filas de espera ainda são longas e a cada ano mais pacientes entram nessas filas. No Ceará não foi diferente, enquanto o ano de 2019 registra 1.616 transplantes de órgãos e tecidos, em 2020 foram realizados 1.122 destes procedimentos, de acordo com a Secretaria de Saúde do Estado do Ceará (Sesa).
O diagnóstico do paciente é o primeiro passo e há uma série de doenças, que o médico pode considerar o paciente elegível para um transplante. O hematologista Dr. Fernando Barroso, um dos médicos responsáveis pelos transplantes de medula óssea do Monte Klinikum, explica que muitas doenças onco-hematológicas, por exemplo, como leucemias, linfomas, aplasias de medula, mielodisplasia, alguns tumores sólidos podem levar a indicação de transplante. Além dos transplantes de medula óssea autólogo, o hospital realiza transplante renal (rim), hepático (fígado) e cardíaco (coração). Na rede de saúde cearense, ainda há hospitais que realizam o mesmo procedimento nos pulmões, pâncreas e córnea.
O próximo passo é entrar na Lista Única Nacional, a lista de espera de transplante. O médico do paciente precisa cadastrá-lo e os receptores são separados de acordo com a necessidade, tipo sanguíneo, órgão que precisa ser transplantado, entre outras questões. A lista única tem ordem cronológica de inscrição, mas a gravidade, compatibilidade sanguínea e genética com o doador são determinantes para o lugar do paciente na fila.
Há dois tipos de doadores. O Doador em vida que precisa ser uma pessoa em boas condições de saúde e que a doação do órgão ou do tecido não comprometa a sua própria saúde e aptidões vitais. Esse doador pode doar um rim, a medula óssea, parte do fígado ou pulmão. Já o Doador pós morte encefálica, baseada na parada completa de todas as funções neurológicas, tem os demais órgãos em funcionamento, mas a situação cerebral é irreversível. Ele pode doar coração, pulmão, fígado, rins, pâncreas, córneas, intestino, pele, ossos e válvulas cardíacas. Atenção que óbitos fora do hospital não se enquadram nesse tipo de doação.
No caso de um potencial doador pós morte encefálica, há uma equipe do hospital que pode abordar a família para esclarecer a importância da doação e entender a escolha da família. “É importante acolher os familiares de forma humanizada, compreendendo o momento de dor e o luto recente vivenciado. É importante disponibilizar, se possível, um espaço que a família se sinta confortável em expressar seus sentimentos e promover uma escuta ativa. No momento da abordagem familiar para a doação, a equipe deve estar preparada e treinada para dar as informações necessárias sobre o processo da doação, e para possíveis dúvidas que possam surgir. Deve-se esclarecer sobre a importância da doação e que ela pode ajudar alguém que esteja à espera de um órgão para transplante, deixando claro que a decisão é uma escolha da família e que esta será respeitada pela equipe” fala Eugênia Viana, psicóloga hospitalar do Monte Klinikum. Segundo o Dr. Anastácio Dias, Coordenador de Transplante Renal do Monte Klinikum, o procedimento é uma “cirurgia tradicional e respeitosa, e ao final o corpo é reconstituído para o velório”.
Depois da autorização de doação e análise de condições e compatibilidade do órgão, a Central de Transplantes do Estado é comunicada e pela lista de espera são selecionados os receptores. O transporte é feito em uma caixa térmica no meio de uma corrida contra o tempo para não perder o órgão. A psicóloga Eugênia explica que “os pacientes que são listados para receber um órgão, passam por uma avaliação multiprofissional para receber orientações sobre o tratamento. O acompanhamento psicológico tem o objetivo de avaliar o estado emocional geral do paciente, se há alterações cognitivas significativas, identificar sua compreensão e expectativa sobre o transplante e o tratamento posterior. Essa avaliação possibilita ao profissional averiguar se há alguma contra indicação psicológica e realizar o acompanhamento do paciente durante o período de preparação, na internação e no período pós-transplante, se necessário”.
Após o transplante, o acompanhamento médico é importante pois há riscos de infecções e de rejeição do novo órgão. “Esse risco existe porque nosso organismo se defende de tudo o que for “estranho” e o novo órgão é algo que não fazia parte do corpo, sendo identificado como algo que precisa ser combatido. É nesse momento que os imunossupressores atuam. Eles são medicamentos que evitam a rejeição do órgão transplantado”, esclarece Dr. Anastácio Dias.
A campanha Setembro Verde quer mostrar que o ato de doar pode ajudar alguém que está à espera de um órgão para obter uma melhor qualidade de vida. É uma forma também de esclarecer que a doação é uma decisão da família e que por isso, é importante conversar com seus familiares sobre o seu desejo.