“Top Gun: Maverick” é muito mais do que mera nostalgia cinematográfica

Longa, estrelado por Tom Cruise, avança na história de Pet “Maverick” Mitchell, referenciando original de 1986, mas desenvolvendo personagens e criando situações mais complexa

Em cartaz nos cinemas de todo o Brasil, “Top Gun: Maverick” vem chamando atenção do público por um motivo: é uma sequência melhor do que o seu original. Enquanto “Top Gun: Ases Indomáveis”, de 1986, apesar do saudosismo que traz consigo, funcionava muito mais como uma propaganda armamentista dos Estados Unidos naqueles já longínquos anos 1980, a continuação também estrelada por Tom Cruise, busca o desenvolvimento de personagens e tem cenas de ação muito melhor dirigidas. E aqui, neste caso específico das tomadas aéreas, de combate ou não, não estamos falando de tecnologia, mas de como a direção atua para criar situações o mais próximo do verossímil.

Até porque “Top Gun: Maverick” foi rodado com o espírito das exibições cinematográficas. Muito provavelmente, exibido na telinha, ele não tenha o mesmo impacto visual. Mas é possível garantir que permaneça com o mesmo impacto dramático e siga passeando bem entre o saudosismo do primeiro filme e as questões existenciais vividas pelos personagens mais amadurecidos, assim como pelos personagens novos.

Na narrativa em questão, após mais de 30 anos de serviço como um dos principais aviadores da Marinha, Pete “Maverick” Mitchell é convocado para voltar à sua antiga escola de pilotagem, mas desta vez como professor. Sua missão é treinar uma equipe para uma missão perigosa, que resultar, inclusive, na morte de todos ou quase todos em ação. Em meio a isso, Maverick precisa lidar com as novas tecnologias, que ameaçam seu posto e antigos problemas mal resovidos.

E aqui é onde a caracterização dos personagens acerta em cheio. Não estamos diante de personagens deteriorados ou esmagados pela passagem do tempo. De Maverick a Iceman, todos se consolidaram de alguma forma e trazem consigo vitórias e derrotas que os ajudam a se estabelecer como indivíduos. E todas as questões indefinidas de suas vidas são colocadas à prova com o intuito de serem resolvidas. Há vida real em “Top Gun: Maverick”. Nada de faz-de-conta.

A partir dessa premissa, os personagens vão se desenvolvendo bem. Isso é tão importante para o filme que até no ar, os dramas são bem estabelecidos. Entre um treinamento ou outro, uma decisão vai influnciar no restante da vida de determinado personagem. Há que se destacar duas relações importantes aqui, para que o espectador fique atento. E o objetivo de “Top Gun” é que tudo se concentre nelas mesmo. Ambas envolvem Maverick. No primeiro caso, a sua relação com o filho do antigo companheiro de voo, vivido por Miler Teller. E, em seguida, com Iceman, intepretado aqui novamente por Val Kilmer. Há uma cena específica de tocar o coração.

Nesta sequência, não há a presença de Kelly McGillis, mas sim, vemos Jennifer Connelly interpretando uma personagem apenas citada em “Ases Indomáveis”, mas que toma forma nesta sequência. Referenciada como um antigo amor de Maverick, ela surge como uma mulher bem sucedida, inclusive como contraponto ao perosnagem de Cruise, que já poderia estar em um posto do alto escalão da Marinha, mas prefere seguir com a mesma patente anos a fio para continuar voando.

Falando especificamente agora de Penny Benjamim, há, talvez, a pequena falha do roteiro de “Top Gun: Maverick”. Como não foi uma personagem amplamente desenvolvida anteriormente, poderia ter mais tempo de tela. Inclusive, para dar o real tom da relação passada com Pete Mithell. Muito embora, você tenha referências disso em “Top Gun 2”, as razões da separação e o que isso envolveu não têm o desenvolvimento merecido. Mesmo assim, isso não tira o potencial da interpretação de Connelly e, muito menos, da história.

Quanto ao aspecto técnico, é claro o investimento nas grandes cenas. Não só as de batalhas aéreas ou as grandes tomadas abertas. Mas a edição e a fotografia em situações-problema entre personagens dão dimensão muito maior à ação na tela. Como falado mais acima, no texto, é uma construção perfeita para a tele de cinema. Será injustiça que grandes premiações, como Bafta, Globo de Ouro e Oscar não relacionem e não premiem “Top Gun: Maverick” em categorias técnicas. Sem contar que não é exagero dizer que o longa caberia em uma indicação de Melhor Filme no Oscar, principalmente agora que a categoria abarca muito mais do que cinco indicações.

“Top Gun: Maverick” é o equilíbrio bem-sucedido entre nostalgia e avanço narrativo. Muitas continuações deveriam beber, a partir de agora, no processo utilizado aqui para ter sucesso para além do fan service. Nâo à toa, o longa já arrecadou mais de R$ 800 milhões, sendo a maior bilheteria de Tom Cruise no cinema, sendo que o ator tem uma fileira de grandes filmes no currículo.

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