Opinião: ação de inclusão social emociona público no CSF 2018

A 34ª edição do Ceará Summer Fashion contou com uma ação social logo na abertura dos desfiles. A proposta diferente se misturou aos lançamentos e levou às passarelas 30 crianças da Comunidade do Gengibre, no bairro Manuel Dias Branco. Todas apadrinhadas por marcas presentes no Maraponga Mart Moda. Os pequenos fizeram suas entradas acompanhados por influenciadores digitais cearenses de todos os nichos.

O que tinha tudo pra ser somente uma ação simples, levando crianças a conhecer um mundo tão comum e ao mesmo tempo tão distante pra elas, foi uma explosão de amor na passarela.

Começando pela abertura diferente! A Orquestra Jacques Klein, do Instituto Beatriz e Lauro Fiuza (ILBF) acompanhou o cantor Marcos Lessa numa apresentação deliciosa! Confesso que foi a primeira vez que vi uma orquestra numa passarela, mas a experiência foi muito interessante. Após o show musical, uma dose cavalar de arte e movimento. Os dançarinos do Instituto Katiana Pena trouxeram uma palhinha do espetáculo “A rua é Nóiz” para a passarela do MMModa. Julgo “espetáculo” uma palavra muito aquém da necessária para expressar a força daquela amostra grátis de apresentação. Foi maravilhoso! 

Em meio a vídeos com imagens explicativas – e bem duras de serem assistidas – Daniele Holanda, idealizadora da ação, falou um pouco de como a ideia surgiu e de como seria interessante aproximar esses dois universos tão contrastantes: o luxo da moda e o “lixo” onde essas crianças infelizmente ainda vivem. 

Na hora de entrar na passarela, choros e sorrisos largos se misturavam à aplausos e gritos da plateia. Não consegui escolher uma criança mais marcante. Teve garotão fazendo pose, princesinha fazendo coração com as mãos para as câmeras, menininho envergonhado por errar a mira na hora de beijar a influenciadora e quase lhe acertar um selinho, pituquinhos entrando acompanhados das mães e dos influenciadores, beijos, acenos e uma experiência certamente inesquecível para cada uma dessas crianças. E pra mim também! 

Parece bobo falando, por cima, que um desfile num centro comercial atacadista possa vir a mudar a realidade destes pequenos. Não vai. Mas a experiência vai trazer um pouco de luz pra vida tão sofrida que levam. E você, leitor mais abastado, certamente conhece o prazer de escolher uma roupa pra vestir. Essas crianças primeiro pensam em sobreviver. Ter a chance e a dignidade de escolher a própria vestimenta com certeza traz um alento pra’queles pequenos corações pulsantes que jamais esquecerão o “dia de modelo”. As marcas que vestiram as crianças se comprometeram a doar, durante um ano, um look completo por mês para cada criança e cestas básicas. 

ILBF 
O instituto Beatriz e Lauro Fiuza existe há 6 anos e atende cerca de 600 alunos com idades entre 4 e 20 anos. Os estudantes e as famílias são acompanhados por uma equipe interdisciplinar formada por assistentes sociais, psicólogos e pedagogos. Todas as aulas, ensaios, treinos e atendimentos são realizados de forma gratuita para o público. A sede do ILBF fica no Passaré, mas o instituto atende em outros dois bairros: José de Alencar, com um núcleo de ensino localizado dentro da Casa de José de Alencar e no Henrique Jorge, em parceria com a Fundação Carlos Pinheiro. O foco do ILBF é o ensino de música e karatê. 

Instituto Katiana Pena
O instituto nasceu da vontade da bailarina Katiana Pena de ajudar as crianças do seu bairro assim como foi ajudada por outro projeto social na infância. Retribuição. Na sala de casa, ela iniciou as aulas de danças para crianças da comunidade onde vive, no bairro Bom Jardim. O ano era 2015. Contando com doações e ajudas de custo para bancar as contas de luz e água, Katiana seguiu dando aulas para mais de 100 crianças e adolescentes. Os voluntários vieram. Em 2017, o instituto passou por uma mega reforma, presente do Programa Caldeirão do Huck. Em tempo recorde o espaço foi reformado e equipado. Hoje, além das aulas de dança, as crianças contam com aulas de reforço escolar e acompanhamento psicopedagógico. Tudo isso ainda é mantido sem nenhum apoio fixo, apenas contribuições de comerciantes e empresários locais. 

Por Daniela Castro – à covite do Ceará Summer Fashion
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