Jornalismo e cinema: estilos se completam em “Tereza e Bruno” para falar sobre inversão de papeis

Documentário em curta-metragem reconta história entre mãe e filho, que poderia ser trivial, mas se universaliza

“Tereza e Bruno” fala, antes de mais nada, sobre gratidão e escolhas. E, mesmo se utilizando de um roteiro bem linear e dentro dos padrões, mostra segurança e competência para universalizar a relação entre um filho e uma mãe. Uma relação que poderia ser corriqueira, como tantas outras, mas que transcende no cuidado e faz com que você se veja na mesma situação.

Em pouco menos de 20 minutos, o curta-metragem dialoga com o romance escrito pelo jornalista Bruno de Castro, “E, no Princípio, Ela Veio: Crônicas de Memória e Amor”, finalista do prêmio Jabuti de 2020, inclusive utilizando-se de trechos lidos pelo próprio autor. O mote da narrativa é a inversão de papeis causada pela velhice e suas implicações, quando o filho passa a ser cuidador, alterando a relação com os pais. No filme de Rosane, a mãe Tereza de Bruno.

“Tereza e Bruno” foi recentemente selecionado para o Pupila Film Festival, que será realizado de 20 a 25 de outubro, em Olinda (PE), e está indicado em quatro categorias (Melhor Média-Metragem Nacional, Melhor Roteiro, Melhor Direção e Melhor Trilha Sonora) no Festival de Cinema Olhar Film, no Pará.

A montagem é o ponto alto do curta, mais até do que o seu discurso em si (aliás, montagem é discurso), pois tem o papel de costurar a colcha de retalhos que se vê na vida de Bruno e Tereza, explicar suas origens. Não há trechos longos demais e nem exageros estilísticos que coloquem o argumento de “Tereza e Bruno” em risco de não servir ao que o filme reflete, que é dar esse caráter universal à história dos dois.

O tom jornalístico, vindo da formação acadêmica da diretora Rosane Gurgel, está presente em todo o tempo de exibição. Ela tem a preocupação de mostrar os mínimos detalhes do dia a dia de cuidados de D. Tereza, mas também insere imagens antigas, seja em vídeo ou fotos, para mostrar que nem sempre foi assim. Ao mesmo tempo, ela dá a perspectiva de Bruno, ciente de suas escolhas, mas temeroso do futuro. A direção se utiliza bem dos closes, seja em expressões ou objetos, novamente atentando a detalhes que poderiam passar despercebidos, mas que fazem a diferença. É a mão do diretor puxando o espectador pela mão para que ele não perca um detalhe sequer.

A história contada no curta renderia facilmente algo mais extenso e, com certeza, há material gravado para isso. Quem sabe um média-metragem de fato e de direito. Seria, talvez, o único senão com relação à obra: ousar mais nos relatos. Diferentes de outros documentários, que usam material para completar tempo, “Tereza e Bruno” teria potencial para ser maior.

Mas “Tereza e Bruno” é um exemplo de como se pode construir uma boa narrativa cinematográfica, independente do estilo ou do assunto escolhido.

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