Peso, felicidade e gordofobia.

Se você usa a internet e as redes sociais, pelo menos em algum momento, você já ouviu/leu o termo “gordofobia” em algum lugar. Mas, afinal, o que raios é gordofobia e porquê tanta gente ainda acha que é “mimimi” de gente que não consegue “se controlar” e fazer dieta? Gordofoia é o preconceito e a intolerância contra pessoas gordas. Exemplificando beeeem precariamente: é aquele anúncio de vaga de emprego que pede alguém “de boa aparência” e não aceita o candidato gordo, entende?

Antes de qualquer coisa, precisamos desmistificar a lenda de que gordos não têm saúde. Saúde e peso até tem sim uma ligação, mas não significa que toda pessoa magra seja saudável e todo gordo seja doente. Pessoas adoecem. Independente de quanto elas pesem.

Apesar dos esforços de muitos influencers da causa “body positive” para a conscientização das pessoas, as atitudes preconceituosas explícitas contra gordos aumentaram consideravelmente nos últimos anos. Certamente porque o gordo cansou de se esconder e de lutar para “caber” nesse padrão besta pré-estabelecido pela sociedade de que pra ser feliz, é preciso ser magro e passou a se mostrar mais, usar  que tem vontade e assumir seu lugar de fala no mundo.

Eu sou gorda e fui gorda a vida inteira. Inclusive, há 6 anos, fiz uma bariátrica justamente por estar com problemas de saúde relacionados à obesidade mórbida. E na posição de gorda, eu lhes digo: frases como “você tem um rosto tão lindo, por que não emagrece” doem muito mais que um tiro na cara. Outras “delicadezas” como: “o que seu marido acha de você ter ganhado uns quilinhos desde que vocês conheceram?” ou ainda “você tem coragem de usar biquini mesmo com esse corpo“? foram e são frequentes na minha vida. E machucam. Mesmo que eu mande o interlocutor catar coquinhos, elas machucam. Isso é reflexo da gordofobia. A propósito, meu marido me ama e a última coisa com a qual ele se preocupa nessa vida é com o número que a balança marca quando eu subo nela. 🙂

Eu cresci ouvindo, dentro de casa, que “gordo é ponto de referência”, que “essa roupa ficaria bem melhor se você fosse magrinha como sua amiga” ou ainda que eu era gorda porque queria, porque não tinha força de vontade… e blá blá blá. E nenhum momento, ninguém na minha casa se perguntou o que havia feito de errado lá atrás, na minha educação alimentar, quando eu simplesmente me recusava a comer e era presenteada com um belo sanduíche. Afinal, eu precisava comer, não é mesmo? Qualquer coisa que fosse. Ninguém também pensou que a genética de uma família de obesos poderia se sobressair e que eu não teria muito como fugir disso. 🙁 Mais tarde, vi esse comportamento – que eu nem sabia que era abusivo (nem se falava nisso há pouco mais de 10 anos!) – se repetir nos meus relacionamentos pessoais e amorosos. Até o dia em que um namorado me disse que eu era a “mulher perfeita na embalagem errada” por causa do meu peso. E eu levei anos pra conseguir me perdoar por não ter nascido magra. Anos.

Minha saúde sempre foi de ferro! Nunca tive nenhum tipo de problema até resolver engordar até espocar para entrar na faca e fazer a cirurgia bariátrica. Vários parentes meus haviam feito e os resultados eram incríveis (na minha cabeça). Isso certamente ia funcionar comigo e eu nunca mais seria gorda. E poderia voltar lá atrás e ser a tal “mulher perfeita” mas agora na embalagem correta. E assim eu fiz. Perdi 45kg em 1 ano e… Não me vi feliz. Continuava olhando no espelho sem saber o que faltava. Mudei cabelo, visual… Mas tudo continuava igual. E eu seguia infeliz, mesmo pesando 55kg e com IMC 19. E minha saúde… Bom, essa ficou uma bela porcaria depois da cirurgia! Mas eu sabia os riscos que corria e resolvi pagar pra ver. Estou vendo até hoje… 🙁

Falei tudo isso pra chegar nesse ponto: NUNCA um corpo vai ser o responsável pela sua felicidade. Se você não estiver bem consigo, não há intervenção cirúrgica, dieta low carb, dieta da lua… NADA nesse mundo que te faça feliz de verdade! Hoje eu peso beeem mais de 55kg. Me incomoda? Sim. Porque isso não é uma questão absolutamente resolvida internamente (isso demora e requer muita terapia). Mas hoje o peso é só um leve incômodo, não um paralisante! Não deixo de fazer, sair, vestir e comer absolutamente nada por conta do meu manequim ou do que as pessoas “delicadamente” me falam quase todo dia. Hoje tenho uma relação bem bacana com meu corpo. Sinto um prazer danado em fazer tratamentos estéticos, me policio pra fazer atividade física nem que seja por 10 min dentro de casa mesmo com a ajuda de aplicativos e como bem (com acompanhamento nutricional e tudo!). Conheço cada curva minha, gosto de me olhar no espelho, de me entender como uma mulher bonita. Eu sou bonita (precisei de mais de 20 anos pra aceitar isso)! Independe do meu peso.

O corpo gordo não é um crime, pecado ou erro. É um corpo. Só um corpo. Lidem com isso!

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